Em
nosso cotidiano é comum prestarmos pouca atenção nas briófitas, tratam-se de organismos
pequenos, que infelizmente tendem a passar despercebidos. Porém muito pode ser
dito a respeito deles, como sua importância ecológica e a variedade que usos
econômicos que elas possuem. Hoje iremos comentar sobre o potencial econômico
das briófitas e também um pouco sobre o campo da etnobriologia, ciência que
estuda o uso tradicional dos musgos, antóceros e hepáticas, e como os
diferentes povos classificam organismos dentro deste grande grupo.
As briófitas
possuem como uma de suas mais marcantes características a sua capacidade de
reter água. Por conta disso era comum na Europa até o início do século XX o uso
de musgos para a impermeabilização de embarcações. O musgo, do gênero Sphagnum, era
utilizado seco, como uma manta, introduzida entre duas tábuas no casco da
embarcação.
Em um
estudo feito por Saatkamp¹ em 2011 foram encontrados conjuntos de briófitas
dentro dos cascos de 15 barcos na região de Lyons, na França. Outra maneira
interessante de fazer uso desta propriedade absorvente foi durante a Primeira
Guerra Mundial, em que o Sphagnum era
utilizado como bandagem em cirurgias.
Neste
último caso o Sphagnum
seria mais vantajoso do que algodão pois é capaz de absorver líquidos mais
três vezes mais rápido e uma quantidade de líquido quatro vezes maior, é capaz
também de reter o líquido por mais tempo, o que reduz a frequência em que as
bandagens precisavam ser trocadas, e tais bandagens eram mais fáceis de serem
produzidas em situações de emergência. Mais um fato curioso a respeito deste
gênero é que os povos nativos dos Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia
costumavam utilizá-lo na composição de fraldas e de absorventes higiênicos.
O Sphagnum compõe
também a turfa, material de origem vegetal, parcialmente decomposto, encontrado
em camadas em regiões montanhosas e em grandes altitudes. Sob condições
geológicas adequadas (presença de metano) esta turfa transforma-se em carvão,
tornando-se inflamável, utilizada como combustível para aquecimento doméstico.
Ultimamente tem sido realizadas pesquisas sobre o potencial de remediação
biológica da turfa.
Nas
últimas décadas tem tomado importância pesquisas sobre o valor medicinal das
briófitas. Harris² em 2008 compilou e documentou aproximadamente 150 espécies
de briófitas com uso medicinal, sendo que destas, 28% são ainda exploradas
pelos povos nativos norte-americanos e 27% delas são utilizadas na medicina tradicional
chinesa. Nesta pesquisa teve destaque a hepática do gênero Marchantia,
utilizada no tratamento de queimaduras, e a Polytrichium, de
propriedades diuréticas e coagulantes.
Autora: Michelle Robin
Referências
¹
Saatkamp, A. et al. 2011. Moss caulking of boats in upper French Rhône and
Saône (Eastern France) from the 3rd to the 20th century and the use of Neckera
crispa. Vegetation History and Archeobotany. Vol. 20(4), pg. 293-304.
²
Harris, E. 2008. Ethnobryology: traditional uses and folk classification of
bryophytes. The Bryologyst. Vol. 111(2), pg. 169-217.
Glime,
J.M. 2007. Economic and Ethnic Uses of Bryophytes. In: Flora of North America
Editorial Committee, eds. 1993. Flora of North America North of Mexico. 15
vols. New York & Oxford. Vol. 27, pp. 14-41.
Nenhum comentário:
Postar um comentário