quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Uso econômico das briófitas.




            Em nosso cotidiano é comum prestarmos pouca atenção nas briófitas, tratam-se de organismos pequenos, que infelizmente tendem a passar despercebidos. Porém muito pode ser dito a respeito deles, como sua importância ecológica e a variedade que usos econômicos que elas possuem. Hoje iremos comentar sobre o potencial econômico das briófitas e também um pouco sobre o campo da etnobriologia, ciência que estuda o uso tradicional dos musgos, antóceros e hepáticas, e como os diferentes povos classificam organismos dentro deste grande grupo.
            As briófitas possuem como uma de suas mais marcantes características a sua capacidade de reter água. Por conta disso era comum na Europa até o início do século XX o uso de musgos para a impermeabilização de embarcações. O musgo, do gênero Sphagnum, era utilizado seco, como uma manta, introduzida entre duas tábuas no casco da embarcação.
            Em um estudo feito por Saatkamp¹ em 2011 foram encontrados conjuntos de briófitas dentro dos cascos de 15 barcos na região de Lyons, na França. Outra maneira interessante de fazer uso desta propriedade absorvente foi durante a Primeira Guerra Mundial, em que o Sphagnum era utilizado como bandagem em cirurgias.
            Neste último caso o Sphagnum seria mais vantajoso do que algodão pois é capaz de absorver líquidos mais três vezes mais rápido e uma quantidade de líquido quatro vezes maior, é capaz também de reter o líquido por mais tempo, o que reduz a frequência em que as bandagens precisavam ser trocadas, e tais bandagens eram mais fáceis de serem produzidas em situações de emergência. Mais um fato curioso a respeito deste gênero é que os povos nativos dos Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia costumavam utilizá-lo na composição de fraldas e de absorventes higiênicos.
            O Sphagnum compõe também a turfa, material de origem vegetal, parcialmente decomposto, encontrado em camadas em regiões montanhosas e em grandes altitudes. Sob condições geológicas adequadas (presença de metano) esta turfa transforma-se em carvão, tornando-se inflamável, utilizada como combustível para aquecimento doméstico. Ultimamente tem sido realizadas pesquisas sobre o potencial de remediação biológica da turfa.
            Nas últimas décadas tem tomado importância pesquisas sobre o valor medicinal das briófitas. Harris² em 2008 compilou e documentou aproximadamente 150 espécies de briófitas com uso medicinal, sendo que destas, 28% são ainda exploradas pelos povos nativos norte-americanos e 27% delas são utilizadas na medicina tradicional chinesa. Nesta pesquisa teve destaque a hepática do gênero Marchantia, utilizada no tratamento de queimaduras, e a Polytrichium, de propriedades diuréticas e coagulantes.

Autora: Michelle Robin

Referências
¹ Saatkamp, A. et al. 2011. Moss caulking of boats in upper French Rhône and Saône (Eastern France) from the 3rd to the 20th century and the use of Neckera crispa. Vegetation History and Archeobotany. Vol. 20(4), pg. 293-304.

² Harris, E. 2008. Ethnobryology: traditional uses and folk classification of bryophytes. The Bryologyst. Vol. 111(2), pg. 169-217.

Alam, A. et al. 2015. Bryophytes - The Ignored Medicinal Plants. SMU Medical Journal. Vol. 1(1).

Glime, J.M. 2007. Economic and Ethnic Uses of Bryophytes. In: Flora of North America Editorial Committee, eds. 1993. Flora of North America North of Mexico. 15 vols. New York & Oxford. Vol. 27, pp. 14-41.

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