quinta-feira, 29 de outubro de 2015
terça-feira, 27 de outubro de 2015
Uso Decorativo de Briófitas
Em nossa última postagem sobre
curiosidades e usos das briófitas, vimos um pouco sobre as aplicações e usos
diretos de alguns gêneros deste filo, como o Sphagnum, além dos usos
medicinais da hepática Marchantia. Nesta iremos comentar a respeito dos
mais variados usos decorativos dessas plantas, que vão desde enfeites em
decorações natalinas e substrato para o cultivo de orquídeas, até a pintura
feita com musgos.
Carpetes de musgos do gênero Hypnum,
Thuidium e Ptilium são muito populares na decoração de vitrines de
lojas, de arranjos florais, sendo bastante utilizados em árvores de natal e
outros ornamentos natalinos, como em árvores de natal e presépios. Este
último uso trata-se na realidade de uma tradição andina, que atualmente tem
sido adotada pela população que mora nas grandes cidades, fora da região dos
Andes. O grande problema disto é que nestes lugares há um grande aumento na
colheita de musgos de durante a época do Natal, e o comércio de briófitas
cresceu tanto a ponto de se tornar uma ameaça aos ecossistemas tropicais, uma
vez que existem plantas vasculares que vivem em simbiose* com briófitas e
dependem destas para sua germinação.
Musgos do gênero Sphagnum são
muito utilizados como substrato no cultivo de orquídeas a partir das sementes,
uma vez que possuem grandes propriedades absorventes, são capazes de reter a
umidade. O musgo passou a ser utilizado para este fim por conta da proibição do
uso de xaxim*, contudo o Sphagnum comercializado no Brasil não é
cultivado, e sim extraído da natureza, sendo retirado das beiras de rios. Sua
coleta é proibida pelo IBAMA, porém devido a falta de fiscalização e controle,
ele ainda pode ser bastante encontrado em lojas especializadas.
A pintura com musgos tem sido feita
na forma de grafite, como um meio de expressão artística "ecologicamente
correta", que não envolve o uso de sprays aerossóis e têm um
resultado que, visualmente, é muito agradável. A única dificuldade deste tipo
de arte é que a pintura necessita de uma certa manutenção, sendo preciso aguar
o musgo para que ele não resseque. A receita para um grafite de musgo é
relativamente simples, é preparada no liquidificador uma mistura contendo o
musgo recentemente coletado, água morna, gel enraizador e soro de leite. Em
seguida basta pegar um pincel, molhar nesta mistura e desenhar. São indicadas
superfícies de madeira, ou muros antigos, preferencialmente em locais que não
estejam diretamente expostos ao sol.
Autora: Michelle Robin
Autora: Michelle Robin
Notas:
1. Simbiose: relação mutuamente vantajosa entre dois
ou mais organismos vivos de espécies diferentes;
2. Xaxim: vaso ou adubo fabricado através do corte em
fatias do tronco da Pteridófita Samambai-açú, cuja comercialização é proibida
desde 2001, devido o risco de extinção)
Referências
GLIME, JM. Bryophyte Ecology. Volume 5. Uses. Ebook
patrocinado pela Michigan Technological University e a Associação Internacional
de Briologistas. Acessado em 22 de outubro de 2015 em <http://www.bryoecol.mtu.edu/>
LEON,
Y; USSHER, MS. Educational program directed towards the preservation of
Venezuelan Andean bryophytes. Journal of the Hattori Botanical Laboratory. Vol.
97, p. 227-231. 2005.
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
Uso econômico das briófitas.
Em
nosso cotidiano é comum prestarmos pouca atenção nas briófitas, tratam-se de organismos
pequenos, que infelizmente tendem a passar despercebidos. Porém muito pode ser
dito a respeito deles, como sua importância ecológica e a variedade que usos
econômicos que elas possuem. Hoje iremos comentar sobre o potencial econômico
das briófitas e também um pouco sobre o campo da etnobriologia, ciência que
estuda o uso tradicional dos musgos, antóceros e hepáticas, e como os
diferentes povos classificam organismos dentro deste grande grupo.
As briófitas
possuem como uma de suas mais marcantes características a sua capacidade de
reter água. Por conta disso era comum na Europa até o início do século XX o uso
de musgos para a impermeabilização de embarcações. O musgo, do gênero Sphagnum, era
utilizado seco, como uma manta, introduzida entre duas tábuas no casco da
embarcação.
Em um
estudo feito por Saatkamp¹ em 2011 foram encontrados conjuntos de briófitas
dentro dos cascos de 15 barcos na região de Lyons, na França. Outra maneira
interessante de fazer uso desta propriedade absorvente foi durante a Primeira
Guerra Mundial, em que o Sphagnum era
utilizado como bandagem em cirurgias.
Neste
último caso o Sphagnum
seria mais vantajoso do que algodão pois é capaz de absorver líquidos mais
três vezes mais rápido e uma quantidade de líquido quatro vezes maior, é capaz
também de reter o líquido por mais tempo, o que reduz a frequência em que as
bandagens precisavam ser trocadas, e tais bandagens eram mais fáceis de serem
produzidas em situações de emergência. Mais um fato curioso a respeito deste
gênero é que os povos nativos dos Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia
costumavam utilizá-lo na composição de fraldas e de absorventes higiênicos.
O Sphagnum compõe
também a turfa, material de origem vegetal, parcialmente decomposto, encontrado
em camadas em regiões montanhosas e em grandes altitudes. Sob condições
geológicas adequadas (presença de metano) esta turfa transforma-se em carvão,
tornando-se inflamável, utilizada como combustível para aquecimento doméstico.
Ultimamente tem sido realizadas pesquisas sobre o potencial de remediação
biológica da turfa.
Nas
últimas décadas tem tomado importância pesquisas sobre o valor medicinal das
briófitas. Harris² em 2008 compilou e documentou aproximadamente 150 espécies
de briófitas com uso medicinal, sendo que destas, 28% são ainda exploradas
pelos povos nativos norte-americanos e 27% delas são utilizadas na medicina tradicional
chinesa. Nesta pesquisa teve destaque a hepática do gênero Marchantia,
utilizada no tratamento de queimaduras, e a Polytrichium, de
propriedades diuréticas e coagulantes.
Autora: Michelle Robin
Referências
¹
Saatkamp, A. et al. 2011. Moss caulking of boats in upper French Rhône and
Saône (Eastern France) from the 3rd to the 20th century and the use of Neckera
crispa. Vegetation History and Archeobotany. Vol. 20(4), pg. 293-304.
²
Harris, E. 2008. Ethnobryology: traditional uses and folk classification of
bryophytes. The Bryologyst. Vol. 111(2), pg. 169-217.
Glime,
J.M. 2007. Economic and Ethnic Uses of Bryophytes. In: Flora of North America
Editorial Committee, eds. 1993. Flora of North America North of Mexico. 15
vols. New York & Oxford. Vol. 27, pp. 14-41.
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